Miséria e doenças em Pedreira
O padre Samuel não nos fez, como o seu colega de Tauá-Péassú, um elogio pomposo da salubridade de sua paróquia. Pelo contrário, disse-nos que a febre intermitente, de que ele próprio já sofreu muito, é endêmica, e que a população é miserável e insuficientemente alimentada. Quando as chegadas das embarcações vindas de Manaus se atrasam um pouco, não se encontra mais no lugar nem café, nem chá, nem pão. Como aqui não existe praia, é preciso ir pescar a uma certa distância, do outro lado do rio; e desde que as águas sobem muito, torna-se impossível apanhar peixe. Então os índios ficam reduzidos a viver exclusivamente de farinha d’água. Esse regime mais do que frugal satisfaz, para quem está habituado, as exigências do estômago; mas o pequeno número de brancos que vivem nessas perdidas paragens sofrem cruelmente. Que mais eloquente comentário da incúria e da indolência da população que semelhante falta de alimentos numa região onde uma variedade imensa de vegetais poderiam ser cultivados quase sem trabalho, onde as pastagens são excelentes, como dão testemunho algumas vacas em bom estado que se vêm em Pedreira, onde o café, o algodão, o cacau e o açúcar encontram condições ótimas de solo e clima e dariam mais abundantes colheitas do que em qualquer outro país que se entrega a tais produções! E, no entanto, nesta terra da fecundidade, o povo vive sob a constante ameaça da fome!
Como já foi dito, quinze ou vinte casas, todas presentemente habitadas, formam a povoação; o padre Samuel nos assegurou que estávamos vendo a população total, pois as festas do Natal haviam atraído todos os moradores das circunvizinhanças. Em breve se dispersarão de novo, voltando cada qual para as suas choças de palha e plantações de mandioca no meio da floresta.