Viagem ao Brasil, 1865-1866

A parte com que concorre a vertente das Cordilheiras do Peru e do Equador, coincide com a dos planaltos do Brasil e da Bolívia. Essas águas alteiam o Amazonas na sua porção central e na margem meridional; elas o fazem refluir para o norte, transbordam na margem setentrional e refluem mesmo sobre os afluentes desse lado do rio que então se acham em vazante.

Pouco depois, as chuvas que caem sobre os planaltos da Guiana e contrafortes setentrionais dos Andes, onde a estação chuvosa está em toda a sua plenitude em fevereiro e março, reproduzem os mesmos fenômenos na vertente oposta. De abril a maio, os afluentes do norte se vão enchendo e atingem em junho o seu máximo. Assim é que, em fins de junho, quando os rios do sul já baixaram consideravelmente, os do norte se encontram no seu nível mais alto; o Rio Negro, por exemplo, sobe em Manaus cerca de 45 pés (proximamente 13 metros). Essa massa d’água vindo do norte faz por sua vez pressão sobre o centro e desvia o rio para o sul. A estação das chuvas, ao longo do próprio Amazonas, vai de dezembro a março e coincide de perto com e nosso inverno, em época e duração.

Convém assinalar que o vale amazônico não é propriamente um vale no sentido corrente da palavra; não está encaixado entre altas paredes que contenham as suas águas; é, pelo contrário, uma vasta planície de cerca de 1.200 quilômetros de largura (sete a oito mil milhas inglesas) e quatro mil (dois a três mil milhas) de comprimento, com um declive tão fraco que a média não excede 19 centímetros por miriâmetro (um pé inglês por dez milhas). Entre Óbidos e o litoral, a distância é de proximamente 1.300 quilômetros (800 milhas) e a inclinação é apenas de 13 metros e 70 centímetros (45 pés). De Tabatinga ao oceano, há, em linha reta, mais de 3.200 quilômetros (duas mil milhas); a diferença de nível é de cerca de 50 metros (200 pés). A impressão à primeira vista é, portanto, a de uma perfeita planície e o escoamento