Viagem ao Brasil, 1865-1866

camadas se elevarem a uma mesma altura. Eis, portanto, uma prova positiva de que esses depósitos tiveram uma espessura muito considerável sobre uma extensão de 1.600 quilômetros (mil milhas) na direção atual do rio. Não se determinou ainda, pela observação direta, a sua extensão em largura, pois não podemos ver até que ponto eles descem para o norte e, do lado sul, a desnudação foi tão completa que, com exceção da cadeia de Santarém, relativamente baixa, não se elevam acima da planície. O fato, porém, de tal formação ter tido outrora uma espessura de mais de 240 metros (800 pés) nos limites em que nos foi dado observá-la, não deixa dúvida de que se deva prolongar até a Bacia do Amazonas, enchendo-a numa mesma altura em toda a sua extensão. A espessura dessas camadas permite avaliar a escala colossal em que se operou a desnudação pela qual esse acúmulo imenso de grés foi reduzido ao nível atual. Temos, pois, um sistema de altas colinas, tendo para panorama todo o relevo das grandes montanhas, isso devido a causas a cuja ação nunca foram atribuídas desigualdades tão grandes da superfície da terra. Podemos, sem receio de errar, denominá-las montanhas de desnudação.

Nesse ponto de nosso estudo, temos a explicar dois fenômenos notáveis. O primeiro é a acumulação no fundo do vale de matérias arenáceas grosseiras, de finas argilas folheadas, imediatamente recobertas por arenitos que se elevam a mais de 240 metros acima do nível do mar, ao passo que a bacia não se fecha, a leste, do lado do oceano, por uma barreira de rochedos. O segundo é o desentulho de tais formações, transportadas para longe, e sua redução ao nível atual por uma desnudação mais extensa do que nenhuma outra de que tem conhecimento a geologia: desnudação que esculpiu todas as colinas mais salientes e serras que se encontram na margem setentrional do rio. Antes, porém, de procurarmos dar a explicação desses fatos, cumpre-nos examinar o terceiro depósito, o superior.