Viagem ao Brasil, 1865-1866

Variações no contorno do litoral da América do Sul

Quando digo que o mar produziu nas costas do Brasil modificações de considerável extensão, — modificações mais do que bastantes para explicar o desaparecimento do dique de origem glaciária que, suponho, represava a leste o vale amazônico nos fins do inverno cósmico, estou longe de fazer uma mera hipótese. Essa ação do oceano se continua ainda pelos nossos dias, com uma força considerável e vem mesmo modificando rapidamente a configuração do litoral. Quando cheguei ao Pará pela primeira vez, fiquei surpreendido em ver que o Amazonas, o maior rio do mundo, não tinha delta. Todos os demais rios, que se classificam como grandes, se bem que alguns deles sejam bem insignificantes em comparação com ele, o Mississipi, o Nilo, o Ganges, o Danúbio, depositam em sua foz vastos deltas. Os pequenos rios, eles mesmos, com raras exceções, formam constantemente aterros de aluvião nos seus pontos de junção com o mar, acumulando aí os materiais que carregam. Até mesmo o pequenino Rio Kander, um dos tributários do Lago de Thun, tem o seu delta. Depois da minha volta do Alto Amazonas, examinei algumas ilhas da Baia de Marajó e algumas partes do litoral, e pude convencer-me de que, com exceção de um pequeno número de ilhotas, nunca acima do nível do mar e formadas de lodo, as ilhas do litoral são porções do continente que dele foram destacadas, parte pela ação do próprio rio, parte pela ação do oceano. Na verdade, o mar desgasta o continente muito mais do que lhe pode adicionar o Amazonas. A grande Ilha de Marajó era a princípio a continuação do vale principal. Todos os detalhes de sua estrutura geológica conservam perfeita identidade com os do próprio vale, e as minhas investigações sobre essa ilha, em suas relações com o litoral e o rio, me levaram a acreditar que fazia ela parte integrante dos depósitos que descrevi anteriormente. Só mais tarde é que se tornou uma ilha no meio do leito do Amazonas, e dividiu o rio em dois ramos que