Viagem ao Brasil, 1865-1866

O mar, porém, estava muito forte, a maré contrária, e, durante todo o decorrer do dia, nenhuma jangada — essa singular embarcação que faz as vezes de canoa— se aventurou a chegar perto do nosso navio sacudido pela ressaca. Ceará não tem cais de desembarque e o mar se quebra violentamente de encontro à areia da praia que se estende em frente da cidade. Essa circunstância torna a atracação impossível para as embarcações durante o mau tempo ou durante certas fases da maré. Somente as jangadas ("catamarãs") podem arrostar as ondas que sobre elas passam sem afundá-las. Às nove horas da noite, encostou ao nosso navio uma embarcação da alfândega, e, apesar da hora adiantada e o mar forte, resolvemos desembarcar, pois nos asseguraram que na manhã seguinte a maré nos seria desfavorável e que, se o vento continuasse, seria difícil, senão mesmo impossível, ir a terra. Não foi sem ansiedade que já embaixo da escada, aguardei a minha vez para pular para a canoa. A onda, crescendo, levantava-a até o nível da escada, e, num instante, arrastava-a até vários metros de distância. Era necessário muito sangue frio e agilidade para saltar no momento oportuno, e não foi sem grande sensação de alívio que me vi na embarcação e não no fundo do mar, sendo iguais as probabilidades para um e outro caso. Quando nos dirigimos para o quebra-mar, os remadores começaram a contar coisas lúgubres sobre a dificuldade do desembarque e os frequentes acidentes que causa; disseram-nos, entre outras, que, poucos dias antes, três ingleses se haviam afogado; pensei de mim para comigo que mais difícil ainda do que sair do navio era chegar a terra. Não obstante, à medida que nos aproximávamos da cidade, o panorama se ia tornando de um pitoresco encantador. A lua, rompendo as nuvens cinzentas carregadas de chuva, lançava uma luz vacilante sobre as areias da praia, onde as ondas