Viagem ao Brasil, 1865-1866

notas sobre esse estabelecimento, bem como sobre o Arsenal de Marinha, também aonde foi sem mim.

É um velho edifício desmantelado. Não me foi dado vê-lo como desejava, pois que o diretor mandou trazer ao salão de recepção tudo o que queria que eu visse, embora eu lhe houvesse afirmado que ligava pouca importância às coisas exteriores, e somente queria conhecer os métodos empregados para diminuir os inconvenientes da cegueira. Reina aqui o mesmo espírito de rotina que observei nas outras escolas e colégios. Mas não é um defeito que seja peculiar aos portugueses e brasileiros; em nossos dias, o velho costume de sobrecarregar a memória e desprezar as faculdades do espírito, mais ativas e fecundas prevalece, em maior ou menor grau, em todos os países do mundo. Não pude fazer um juízo completo do sistema adotado neste estabelecimento; os professores se mostravam mais desejosos de fazer sobressair a habilidade de alguns alunos na leitura, ditado e música, do que de me explicarem os seus métodos de ensino. A música vocal e instrumental me pareceu ser a ocupação predileta; mas se de fato é muito comovedor ouvir um cego deplorar o seu infortúnio e exprimir em sons harmoniosos a sua aspiração pela luz, isso não nos ensina grande coisa sobre a maneira por que se consegue diminuir-lhe a infelicidade; reconheço, entretanto, que a educação musical é excelente e faz honra ao professor alemão encarregado dela. Fiquei admirado de não se empregar melhor, num estabelecimento como este, o método de ensino pelos objetos tão em voga na Alemanha para a educação das crianças; a escola possui menos número de modelos que qualquer nursery de certas partes da Alemanha. Os mapas são também dos mais medíocres".