Viagem ao Brasil, 1865-1866

voltar à água. Creio que o medo é que o leva a sair desta, pois é sempre na proximidade imediata do navio e em frente dele que é visto tornar o impulso, ou então a uma certa distância quando perseguido por grandes peixes. Presentemente, após haver estudado os movimentos desses animais, estou em melhores condições para apreciar as particularidades de sua estrutura e, principalmente, a desigualdade dos dois lóbulos da nadadeira caudal. Está claro que o comprimento maior do lóbulo inferior tem por fim facilitar os movimentos pelos quais o corpo se lança fora d’água e se projeta no ar, ao passo que a larga dimensão das peitorais apenas oferece um ponto de apoio durante a passagem por um meio menos denso. Um fato, em particular, prova mais do que todos os outros a liberdade de movimentos desses peixes. Quando a superfície do mar se ergue em grandes vagalhões, os peixes-voadores não percorrem essas ondas de crista em crista, mas descrevem uma curva regular acompanhando em suas subidas e descidas as ondulações das mesmas. Não parece também que esses animais caiam no seu natural elemento quando se lhes esgota a força de impulsão, antes parecem cair voluntariamente para baixo da superfície das águas, às vezes após um voo muito curto, às vezes depois de um longo voo durante o qual mudam de direção como de altura.

Os peixes-voadores mais conhecidos do Atlântico pertencem ao gênero Exocetus, e são parentes próximos dos nossos peixes com bico (Oryphia). J. Müller fez ver que eles diferem muito dos arenques a que estavam antigamente associados e deviam formar uma família distinta a que deu o nome de Escomberesócios. Os demais peixes-voadores fazem parte da família dos Cotóides, de que é principal representante o nosso caboz.