Por Brasil e Portugal

rasgaram com as armas; ele cortara com o discurso. O século era dos guerreiros vestidos de ferro; ele orara com paixão. Enquanto aqueles estraçalhavam as hostes de Orange, limitara-se, o discípulo de Fernão Cardim, a sacudir com a retórica os nervos dos irresolutos, a consciência dos tímidos, a alma dos fortes. É reparar melhor e então se verá que o gigante não brandia uma espada, porém dardejava os raios de uma convicção que varava os espíritos, esclarecia os cegos, impelia os inermes, conduzia os decididos e ainda deixava no ar a noção nova de deveres em que ninguém pensava... Foram todos o braço; Vieira — muito mais que isto — é a razão; e o dirigiu.

Surge — como os apóstolos aparecem sempre — nos imprevistos e tumultos da catástrofe. Aos oito anos, com o pai, escrivão dos agravos da Relação do Brasil, viera para a Bahia. Menino atado, de curto entendimento, estalara-lhe o cérebro, no alvoroço talvez da vocação encontrada, diante do altar de Nossa Senhora da Fé, na sua catedral baiana, vizinha da igreja do colégio onde professou. Redigiu, ainda menorista, a Ânua da Companhia, que relatou a perda da cidade, em 1624. Dez anos depois era ali mestre de filosofia, lendo em compêndio que escreveu, e pelo qual muito tempo se ensinou na Bahia. Catequista de caboclos aldeados, pregador, tão esforçado estudante que nenhum da Companhia poderia orgulhar-se, naquela terra, de saber as profundas cousas que ele aprendera. Já então a curiosidade universal sobre o que está nos livros e, fora destes, na ciência encoberta, o apartara