grandes. Sim, e não por amor do pecador, nem por amor dos pecados, senão por amor da honra e glória do mesmo Deus, a qual quanto mais e maiores são os pecados que perdoa, tanto maior é, e mais engrandece e exalta seu santíssimo nome: Propter nomem tuum, Domine, propitiaberis peccato meo: multum est enim. O mesmo David distingue na misericórdia de Deus grandeza e multidão: a grandeza, Secundum magnam misericordiam tuam; (Ibid. L — 3) a multidão, Et secundum multitudinem miserationum tuarum. E como a grandeza da misericórdia divina é imensa, e a multidão de suas misericórdias infinita; e o consenso não se pode medir, nem o infinito contar; para que uma e outra, de algum modo, tenha proporcionada matéria de glória, importa à mesma grandeza da misericórdia que os pecados sejam grandes, e à mesma multidão das misericórdias, que sejam muitos: Multum est enim. Razão tenho eu logo, Senhor, de me não render à razão de serem muitos e grandes nossos pecados. E razão tenho também de instar em vos pedir a razão porque não desistis de os castigar: Quare obdormis? Quare faciem tuum avertis? Quare oblivisceris inipiae nostra', et tribulatronis nostrae?
Esta mesma razão vos pediu Job quando disse: Cur non tollis peccatum meum, et quare non aufers iniquitatem meam? (Job. VII — 21) E posto que não faltou um grande intérprete de vossas escrituras que o arguisse por vossa parte, enfim se deu por vencido, e confessou que tinha razão Job em pedir a vós: Criminis in loco Deo impingis, quod ejus qui deliquit, non miseretur? diz São Cirilo Alexandrino. Basta, Job, que criminais e acusais a Deus de que castiga vossos pecados! Nas mesmas palavras confessais que cometestes pecados e maldades; e com as mesmas palavras pedis razão a Deus porque as castiga? Isto é dar a razão, e mais pedi-la.