sustenta a conservação de qualquer monarquia e porque ambos estes faltaram sempre ao Brasil, por isso se arruinou e caiu. Sem justiça não há reino, nem província, nem cidade; nem ainda companhia de ladrões que possa conservar-se. Assim o prova Santo Agostinho com autoridade de Scipião Africano, e o ensinam conformemente Túlio, Aristóteles, Platão, e todos os que escreveram de república. Enquanto os romanos guardaram igualdade, ainda que neles não era verdadeira virtude, floresceu seu império e foram senhores do mundo; porém tanto que a inteireza da justiça se foi corrompendo pouco a pouco, ao mesmo passo enfraqueceram as forças, desmaiaram os brios, e vieram pagar tributos os que o receberam de todas as gentes. Isto estão clamando todos os reinos com suas mudanças, todos os impérios com suas ruínas: o dos persas, o dos gregos e o dos assírios. Mas para que é cansar-me eu com repetir exemplos, se prego a auditório católico, e temos autoridades de fé? Regnum de gente ingentem transfertur propter injustitias, diz o Espírito Santo no capítulo décimo do Eclesiástico. Que a causa por que os reinos e as monarquias se não conservam debaixo do mesmo Senhor, a causa porque andam passando inconstantemente de umas nações a outras, como vemos, é propter injustitias, por injustiças. As injustiças da terra são as que abrem a porta à justiça do céu. E como as nações estranhas são a vara da ira divina, Assur virga furoris mei, com elas nos castiga, com elas nos desterra, com elas nos priva da pátria, que é muito antiga razão de estado da providência de Deus, quando se não guarda justiça na sua vinha, dá-la a outros lavradores: Vineam suam locabit aliis agricolis. Pois se por injustiças se perdem os estados do mundo, se por injustiças os entrega Deus a nações estrangeiras, como poderíamos nós conservar o nosso, ou como o poderemos restaurar depois