Por Brasil e Portugal

de perdidos, senão fazendo justiça? O contrário seria resistir a Deus e porfiar contra a mesma fé.

Sem justiça se começou esta guerra, sem justiça se continuou, e por falta de justiça chegou ao miserável estado em que vemos. Houve roubos, houve homicídios, houve desobediências, houve outros delitos, muitos e enormes, que não sei se chegaram a tocar na religião; mas nunca houve castigo, nunca houve um rigor que fizesse exemplo. Muitos bandos se lançaram muito justos, muitas ordens se deram muito acertadas, mas, como disse Aristóteles, as leis não são boas, porque bem se mandam, senão porque bem se guardam. Que importa que fossem justos os bandos se não se guardavam mais, que se mandara o que se proibia? Que importa que fossem acertadas as ordens, se nunca foi castigado quem as quebrou, e pode ser que nem repreendido? Baste por todo encarecimento nesta matéria, que em onze anos de guerra contínua e infeliz, onde houve tantas rotas, tantas retiradas, tantas praças perdidas, nunca vimos um capitão, nem ainda um soldado, que com a vida o pagasse. Oh, aprendamos, aprendamos sequer de nossos inimigos, que nesta última fortuna tão grande que tiveram, quando com um poder tão desigual nos derrotaram a maior armada que passou a linha; a dois capitães sabemos, que degolaram no Recife,(112)Nota do Autor e a outros inabilitaram com suplícios menos honrosos, só porque andaram remissos em acudir à sua obrigação. Pois se o inimigo quando ganha dá mortes de barato, se quando consegue o intento, se quando se vê vitorioso sabe cortar cabeças; nós que sempre perdemos, e nem sempre por falta de poder, por que não atalharemos a novas perdas com castigo exemplar de quem