for a causa? Por que há de ser consequência na guerra do Brasil, se me renderem passarei a Espanha e despachar-me-ei? Há solução mais indigna de espanhóis? Há razão mais indigna de católicos?
Toda esta falta de castigo, toda esta remissão de culpa nasceu de uma razão de estado que cá se praticou quase sempre; que se não hão de matar os homens em tempo que os havemos tanto mister; que não é bem que se perca em uma hora um soldado que se não faz senão em muitos anos; que justificar um homem porque matou outro é curar uma chaga com outra chaga, e que se não remedeiam bem as perdas acrescentando-as; que a primeira máxima do governo é saber permitir, e que se há de dissimular um dano, por não o evitar com outro maior; conto se não fora maior dano a destruição de toda a república, que a morte de um particular, como se não fora grande expediente resgatar com uma vida as vidas de todos: Expedit ut unus moriatur homo, ne tota gens pereat. Ah, triste e miserável Brasil, que porque esta razão de estado se praticou em ti, por isso és triste e miserável! Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles; que os reinos e os impérios não os arruínam os pecados por cometidos, senão por dissimulados. Dissimular com os maus é mandar-lhes que o sejam, disse Sêneca, e mais era gentio: Qui non vetat peccare, c'um possit, jubet. A conquistar dilatadíssimas províncias caminhava Moisés, general dos israelitas, e não duvidou degolar de uma vez 24 mil homens, como se lê na escritura, porque entendia, como experimentado capitão, que mais lhe importava no seu exército a observância da justiça, que o número dos soldados. Quem pelejou nunca no mundo com número mais desigual que Judas Macabeu? E contudo nem os exércitos de Apolônio nem os ardis de Seron, nem os