elefantes de Antiocho o puderam jamais vencer, antes ele saiu sempre carregado de despojos e de vitórias, por quê? Porque primeiro tirava a espada contra os seus, e depois contra os inimigos. Pelejava com poucos soldados e mais vencia, porque poucos com justiça é grande exército. Alagou Deus o mundo com o dilúvio universal, e para restauração dele não guardou mais que Noé com três filhos seus em uma arca. Pois, senhor, parece que pudemos replicar; quereis restaurar o mundo, querei-o restituir a seu antigo estado, e para uma facção tão grande não guardais mais de quatro homens em um navio? Sim, que depois de um castigo tão grande, depois de uma justiça tão exemplar, quatro homens e um só navio bastam para restaurar um mundo inteiro. Vede se nos sobejaram sempre soldados para restaurar o Brasil, se nos não faltará a justiça.
IV
E não só é necessária ao nosso enfermo esta justiça punitiva, que castiga malfeitores, senão a outra parte da justiça distributiva, que premie liberalmente aos beneméritos. Assim como a medicina, diz Philo Hebreu, não só atende a purgar os humores nocivos, senão a alentar e alimentar o sujeito debilitado; assim a um exército ou república não lhe basta aquela parte da justiça, que com o rigor do castigo a alimpa dos vícios, como de perniciosos humores, senão que é também necessária a outra parte, que com prêmios proporcionados ao merecimento, esforce, sustente, e anime a esperança dos homens. Por isso os romanos, tão entendidos na paz e na guerra, inventaram para os soldados as coroas cívicas e murais, as ovações, os triunfos, e outros prêmios militares, porque como o amor da vida é tão natural, quem se atreverá a arriscá-la intrepidamente, senão alentado com a esperança do prêmio?