Por Brasil e Portugal

Quando David quis sair a pelejar com o gigante, perguntou primeiro: Quid dabitur viro, que percusserit philisthaeum hunc? Que se há de dar ao homem que matar este filisteu? Já naquele tempo se não arriscava a vida, senão por seu justo preço, já então não havia no mundo quem quisesse ser valente de graça. Necessário é logo que haja prêmios, para que haja soldados; e que aos prêmios se entre pela porta do merecimento: deem-se ao sangue derramado, e não ao herdado somente; deem-se ao valor, e não à valia; que depois que no mundo se introduziu venderem-se as honras militares, converteu-se a milícia em latrocínio, e vão os soldados à guerra a tirar dinheiro com que comprar, e não a obrar façanhas com que requerer. Se se guardar esta igualdade, entrará em esperanças o mosqueteiro e soldado de fortuna, que também para ele se fizeram os grandes postos, se os merecer; e animados com este pensamento, os de que hoje se não faz caso, serão leões, e farão maravilhas que muitas vezes debaixo da espada ferrugenta está escondido o valor, como talvez debaixo dos taliz bordados anda dourada a cobardia. Assim que, é necessário que haja Saues liberais, para que se levantem Davids animosos; e muito mais necessário que os prêmios se deem a quem disparar a funda e derrubar o gigante, e não a quem ficar olhando destros arraiais. Nenhuns serviços paga sua majestade hoje com mais liberal mão, que os do Brasil, e contudo a guerra enfraquece, e a reputação das armas cada vez em pior estado porque acontece nos despachos o de que ordinariamente se queixa o mundo, que os valerosos levam as feridas, e os venturosos os prêmios(113)Nota do Autor. Na filosofia bem ordenada primeiro é a potência e o ato,