Por Brasil e Portugal

depois o hábito; cá se olharmos para os peitos dos homens, acharemos muitos hábitos e mui pensionados, onde nunca houve ato, nem ainda potência. Desta desigualdade se segue, que o efeito dos prêmios militares vem a ser o contrário a si mesmo, porque em vez de com eles se animarem os soldados, antes se desanimam e desalentam. Como se animará o soldado a buscar a honra por meio das bombardas e dos mosquetes, se vê em um peito o sangue das balas e noutro a púrpura das cruzes? Como se alentará a padecer os trabalhos e perigos de uma campanha, se vê premiado a Jacob, que ficou em casa, e sem premio a Esaú, que correu os montes? Se às peles de Jacob se dá o morgado, e às setas de Esaú se nega a bênção; se alcança mais este com o seu engano, que o outro com a sua verdade; quem haverá que trabalhe? Quem haverá que se arrisque? Quem haverá que peleje? Não há dúvida, que à vista de semelhantes mercês, dirão os valorosos, que vão errados; terão contrição do que deverão ter complacência; arrepender-se-ão de seus brios, condenarão suas passadas finezas, e se chegarem a pelejar valentemente, será por desesperação; que não há coisa que assim desespere os beneméritos, como ver os indignos premiados.

Mas muitas graças sejam dadas a Deus, que para remédio deste grande mal não só temos justiça na terra, senão justiça de sol, como diz Malaquias: Orietur vobis sol justitiae. Sol para alumiar, para conhecer, para distinguir; justiça para premiar com igualdade. Por isso eu lá dizia, que não sei qual lhe fez sempre maior mal ao Brasil, se a enfermidade, se as trevas. Muitas vezes prevaleceu o engano contra a verdade nesta guerra, muitas vezes luziu o que não era ouro, e foi tão injusta a fama, que trocou os nomes às coisas e às pessoas, e soaram