nestes arredores, que sem sair da Bahia, como se quatro vezes fora a Argel, quatro vezes se resgatou com o seu dinheiro. Como se havia de restaurar o Brasil, se os mantimentos se abarcavam com mão d'el-rei, e talvez os vendiam seus ministros, ou os ministros de seus ministros (que não há Adão que não tenha sua Eva), pondo os preços às coisas a cobiça de quem vendia, e a necessidade de quem comprava? Como se havia de restaurar o Brasil, se os navios que sustentam o comércio, e enriquecem a terra, haviam de comprar o descarregar, e o dar querena, e o carregar, e o partir, e não sei se tambem os ventos? Como se havia de restaurar o Brasil, se o capitão de infantaria por comer as praças aos soldados, os absolvia das guardas, e das outras obrigações militares, envilecendo-se em ofícios mecânicos, os ânimos que hão de ser nobres e generosos? Como se havia de restaurar o Brasil, se o capitão de mar e guerra(120)Nota do Autor fazia cruel guerra ao seu navio, vendendo os mantimentos, as munições, as enxaravias, as velas, as antenas, e se não vendeu o lastro do galeão, foi porque não achou quem lh'o comprasse. E como, mais ou menos por nossos pecados, sempre houve no Brasil alguns ministros destas qualidades, que importava que os generais ilustríssimos fossem tão puros como o sol, e tão incorruptíveis como os orbes celestes? Digo isto, porque sei que o vulgo é monstro de muitas cabeças, que não se governa por verdade, nem por razão, e se atreve a pôr a boca no mesmo céu, sem perdoar nem guardar decoro ainda ao maior planeta. O certo é que muitas coisas se dizem, que não são, e há sucessores de Pilatos no mundo, que por se lavarem as mãos a si, lançam as culpas a cabeça. Que haviam as cabeças de executar meneando-se