Por Brasil e Portugal

Divina doutrina nos deixou Cristo desta moderação na sujeita matéria dos tributos. Mandou Cristo a São Pedro, que pagasse o tributo a César, e disse-lhe que fosse pescar, e que na boca do primeiro peixe acharia uma moeda de prata, com que pagasse. Duas ponderações demos a este lugar o dia passado; hoje lhe daremos sete a diferentes intentos. Se Deus não fez milagres sem necessidade, porque o fez Cristo nesta ocasião, sendo ao parecer supérfluo? Pudera o Senhor dizer a Pedro que fosse pescar, e que do preço do que pescasse, pagaria o tributo. Pois porque dispõe que se pague o tributo não do preço, senão da moeda que se achar na boca do peixe? Quis o Senhor, que pagasse São Pedro o tributo, e mais que lhe ficasse em casa o fruto de seu trabalho, que este é o suave modo de pagar tributos. Pague Pedro o tributo sim, mas seja com tal suavidade e com tão pouco dispêndio seu, que satisfazendo às obrigações de tributário, não perca os interesses de pescador. Coma o seu peixe como dantes comia, e mais pague o tributo que dantes não pagava. Por isso tira a moeda não do preço senão da boca do peixe: Aperto ore ejus, invenies staterem. Aperto ore.(223)Nota do Autor Notai. Da boca do peixe se tirou o dinheiro do tributo; porque é bem que para o tributo se tire da boca. Mas esta diferença há entre os tributos suaves e os violentos; que os suaves tiram-se da boca do peixe; os violentos, da boca do pescador. Hão se de tirar os tributos com tal traça, com tal indústria, com tal invenção, Invenies staterem, que pareça o dinheiro achado, e não perdido; dado por mercê da ventura, e não tirado à força da violência. Assim o fez Deus com Adão; assim o fez Cristo com São Pedro; e para que não diga