Por Brasil e Portugal

Plínio, na sua História Natural, lhe chama Faber. Notável coisa! Faber quer dizer o oficial. De sorte que ainda no mar, quando se há de pagar um tributo, não o pagam os outros peixes, senão o peixe oficial. Não pagou o tributo um peixe fidalgo, senão um peixe mecânico. Não o pagou um peixe que se chamasse rei, ou delfim, ou outro nome menor de nobreza, senão um peixe que se chamava oficial: Faber. Sobre os oficiais, sobre os que menos podem, caem de ordinário os tributos, não sei se por lei, se por infelicidade, e melhor é não saber por quê.

Seguia-se agora, segundo a ordem que levamos, exortar o povo aos tributos; mas não cometerei eu tão grande crime. Pedir perdão aos que chamei Povo, isso sim. Em Lisboa não há povo. Em Lisboa não há mais que dois Estados — Eclesiásticos e Nobreza. Vassalos que com tanta liberalidade despendem o que têm, e ainda o que não têm, por seu rei, não são Povo. Vai louvando o Esposo Divino as perfeições da Igreja em figura da Esposa, e admirando o ar, garbo e bizarria com que punha os pés no chão, chama-lhe filha de Príncipe: Quam pulchri sunt gressus tui in calceamentis, filia Principis!(245)Nota do Autor Não há dúvida que no corpo político de qualquer monarquia, os pés como parte inferior, significam o Povo. Pois se o Esposo louva o Povo da monarquia da Igreja, com que pensamento, ou com que energia lhe chama neste louvor filha de Príncipe: Filia Principis? A versão hebreia o declarou ajustadamente: Filia Principis, idest, filia populi sponte offerentis. Onde a Vulgata diz, filha de Príncipe, tem a raiz hebreia, filha do Povo, que oferece voluntária e liberalmente. E Povo que oferece com vontade e liberalidade não é Povo, é Príncipe: Filia populi sponte offerentis: filia Principis. Bem dizia