grandes cidades, muito havemos mister para nos livrar de suas penas, posto que nos desembaracemos de suas mãos. Esta é a injustiça da fama, que tanto desacredita com o presumido, como ofende com o verdadeiro. Doze bandeiras acharam em um carro comboiado de lavradores, que levaram e têm em seu poder; e posto que não foram tomadas em guerra, quem há de distinguir nelas o que é tafetá, do que é insígnia? Quem há de provar ao mundo que foram roubo e não vitória? São hoje estas bandeiras de Portugal como a capa de José nas mãos da Egípcia. Ali estava a fraqueza da parte de quem mostrava a capa, e o valor da parte de quem a perdera. Mas José padecia os desares da opinião, e a Egípcia lograva os aplausos da fama que não merecia; porque quem pode mostrar em sua mão os despojos, sempre tem por si a presunção da vitória; e mais quando não podemos negar aos olhos do mundo a grande desigualdade dos compassos com que a geometria mede nos mapas as suas e as nossas fronteiras.
III
E como os empenhos da ocasião presente são tão grandes, com muito razão trata hoje a piedade da rainha nossa senhora de segurar o sucesso com Deus, e render o céu com orações, enquanto o nosso exército defende a terra com as armas. A el-rei David lhe aconselharam os seus que não saísse à campanha em certa ocasião de guerra, persuadidos (como diz Lyrano) que mais os podia ajudar ausente com as orações, que presente com as