tem por si o braço de Deus, não lhe são necessários para vencer muitos cavalos, nem um só cavalo. Com uma queixada de um animal, que não chegava a ser cavalo, in mandibula asini, venceu Sansão exércitos inteiros, porque tinha por sua parte a cavalaria de Deus, que é a sua vontade: Neque in equilibus voluntas tua est.
A terceira dificuldade é o inverno tão entrado. Mas que bem acode a esta dificuldade na sua oração a nossa Judith! Domine Deus coeli, creator aquarum: Senhor Deus do céu, criador das águas. Parece que só para esta ocasião foram feitas estas palavras. Por que chama Judith a Deus criador das águas e não se lembra dos outros elementos? Por que lhe não chama criador da terra, criador do ar, e muito mais, criador do fogo, que na guerra é o mais ativo e mais poderoso instrumento? A razão é, porque os inimigos tinham quebrado os aquedutos de Betúlia, os canais por onde se comunicavam as fontes à cidade, para que os sitiados se entregassem obrigados da sede. E como os inimigos queriam fazer a guerra com água, por isso particularmente alegava Judith a Deus ser criador e senhor deste elemento: Domine Deus coeli, creator aquarum. Com o mesmo elemento, posto que por diferente traça, nos querem hoje fazer a guerra as disposições contrárias bem conhecidas. Esperam pelas inundações do Guadiana para sitiar as nossas praças e têm quebrado a ponte, para impedir o passo aos nossos socorros. Mas se Deus é o Senhor e o criador das águas, que importa que com elas nos determine fazer a guerra, grande que seja o seu império, o não tem sobre as nuvens? Que importa que espere contra nós pelos dilúvios de Noé, se Portugal tem a chave ele Elias para fechar ou abrir as fontes do céu? Bem se vê em todos estes meses, e bem se viu o ano passado no intentado sítio de Elvas, pois precedendo antes, e seguindo-se depois um verão extraordinário