Por Brasil e Portugal

de muitos dias, só nos oito em que o exército sitiador aturou a campanha, foram tais as lanças de água que continuamente estava chovendo o céu, que ele mais que a nossa artilharia, o fez retirar com tanta perda de gente e reputação, como vimos.

A Job perguntou Deus uma hora, se tinha entrado nos seus armazéns da neve e chuva, que ele tem reservado para o tempo da guerra: Numquidi ingressus es thesauros nivis, et grandinis, quos servavi mihi in tempus pugnae, et in diem belli? (Job. XXXVIII — 22). As chaves destes armazéns parece que as tem Deus dado a Portugal, pois tanto se serve destas armas em suas vitórias. Os reis de Portugal são senhores do mar Oceano, direito contra o qual se têm composto tantas apologias nas nações estrangeiras(262)Nota do Autor. E assim servir o elemento da água aos nossos reis não é maravilha senão obrigação. Bem se tem visto e experimentado na ocasião presente, em que o mar tanto a seu tempo nos veio trazer os tributos para esta guerra. Aquela chuva tão rara do dia da coroação d'el-rei, que a muitos pareceu prodigiosa foi oferecer-se desde então o elemento da água a militar debaixo de nossas bandeiras. E não tenhais por encarecimento ou lisonja esta interpretação; porque os reis dados por Deus costumam trazer a seu soldo este elemento. Quando Absalão fez guerra a David, rebelando-se tantos de seus vassalos contra um rei ungido e dado por Deus, sempre o elemento da água lhe foi fiel e propício. É caso notável. Quis Chusai, confidente de David, avisá-lo secretamente do conselho de Achitofel para que se pusesse em