Por Brasil e Portugal

pecador, por que não quis Deus que fosse o primeiro morto Adão, senão Abel? A razão foi, diz São Basílio de Seleucia, porque na injustiça com que a morte se introduziu no mundo, traçava Deus a vitória com que a havia de lançar dele. O fim para que Deus veio ao mundo foi vencer a morte; se a morte se introduzisse por Adão, fazia guerra justa aos homens; pois por isso dispôs Deus que a morte começasse tiranicamente pela inocência de Abel, para que sendo da parte de morte injusta a guerra, ficasse da parte de Cristo segura a vitória. Tão certa é a vitória na justiça da causa, que o mesmo Deus parece que não podia vencer a morte, se ela nos fizera guerra justa. Oh, que seguro temos nesta parte o bom sucesso de nossas armas! Não há guerra mais justa que a que hoje fazemos; justa pelo legítimo direito do reino, justa pela satisfação dos danos passados, justa pela defensa natural e antecipada prevenção do futuro, e mais justa ainda na presente ocasião, por sermos provocados. Como poderá logo faltar a vitória a tantas razões de justiça? Assim o assegurava São Bernardo aos cavaleiros templários, e assim o podemos nós assegurar aos de Cristo, Santiago, e Aviz, e ao grão mestre de todos.

Finalmente, os dois últimos fundamentos que temos para esperar vitória, são as ações contrárias e as nossas. Isto que agora direi parece que toca em arte de adivinhar; mas se é mágica a sagrada escritura m'a ensinou. Primeiramente digo que os nossos opositores hão de ficar vencidos; porque quando vieram com o seu exército, ficarão da banda de além, e não passarão o rio. Vai a prova. Estava Timóteo, capitão general dos amonitas, com o seu exército da banda d'aquém de um rio esperando pelo exército de Judas Macabeu, que marchava contra ele; e disse assim a seus capitães: Cum appropinquaverit Judas, et exercitus ejus ad torrentem aquae, (1. Machab. V — 40)