Por Brasil e Portugal

Castela, senão de ti mesmo! Pôs Deus a Adão no paraíso: Ut operatur, et custodiret illum. (Gen. II — 15) para que trabalhasse e o guardasse. E de quem o havia de guardar, pergunto eu? Dos homens? Não; porque os não havia. Dos animais? Não, porque lhe eram sujeitos. Pois de quem havia de guardar Adão o paraíso? Sabeis de quem? De si mesmo. E porque ele o não guardou de si, por isso o perdeu. Todos nos cansamos em guardar Portugal dos castelhanos, e deveramo-nos cansar mais em o guardar de nós. Guardemos o nosso reino de nós, que nós somos os que lhe fazemos a maior guerra. Por um pecado perdeu Adão o paraíso; por um pecado perderam os anjos o céu; por um pecado perdeu Saul o reino; por um pecado perdeu Absalão o exército; e nós cuidamos que com tantos pecados temos a conservação segura! Entramos por Castela com confiança de grandes vitórias, e não sabemos quão grandes exercitos, e quão poderosos lá estão prevenidos e armados contra nós. El-rei pôs um exército em Portugal contra Castela, e cada um de nós tem posto um exército em Castela contra Portugal. E que exércitos são estes? Os pecados de todos, e os de cada um. Não são isto conceitos nem encarecimentos senão verdades de fé. E se Deus nos abrira os olhos, nós veríamos os montes cobertos destes exércitos, como os viu Giezy, onde os não imaginava: Circumdederunt me mala, quorum non est numerus, comprehenderunt me iniquitates mea, et non potui ut viderem. (Psal. XXXIX — 13). Eu (diz o rei penitente) estava cercado de inumeráveis exércitos, que eram os pecados meus, e de meus vassalos, mas tão cego que os não via. Estes são os exércitos que temos nós em Castela; os pecados de cada um de nós, os pecados de toda Lisboa, os pecados de todo Portugal.

Mas vejo que me dizeis, que se da parte de Castela estão contra nós os pecados de Portugal, também da parte