fundado, e não vão, o nome que tinha. O maior perigo e perdição da guerra é cuidarem os doutores desta arte, que sabem tudo. Os sábios em qualquer faculdade mais sabem ouvindo, que discorrendo, e mais acompanhados, que sós. Meliores aestimantur qui soli non omnia praesumunt, diz o grande político Cassiodoro; que sempre foram estimados por melhores, os que de si só não presumem tudo. Já se a presunção do saber se ajunta à soberania do poder, como em Nicodemus, que era mestre e príncipe, nestes dois resvaladeiros está certo o precipício e a ruína. Para conseguir efeitos grandes, e para levar ao cabo empresas dificultosas, mais segura é uma ignorância bem aconselhada, que uma ciência presumida. A primeira vitória para alcançar outras muitas, é sujeitar o juízo próprio, quem não é sujeito ao mando alheio. Perguntado Alexandre Magno com que indústria, ou com que meios em tão breve tempo se fizera senhor do mundo, diz Estrobeo, que respondera estas palavras: Consiliis, eloquentia, et arte imperatoria: Com os conselhos, com a eloquência, e com a arte de governar exércitos. No último lugar pôs a arte, e no primeiro o conselho; porque o conselho é a arte das artes e a alma e inteligência do que ela ensina. A arte prescreve preceitos em comum, o conselho considera as circunstâncias particulares; a arte ensina o que se há de fazer, o conselho delibera quando, como, e por quem. Vegessio dispôs os sítios e batalhas de longe, o conselheiro tem diante dos olhos o exército inimigo, e o próprio, os capitães, os soldados, o número, a nação, as armas, e até a ocasião do terreno, do sol, e do vento, que se não veem senão de perto. Os Levitas que quiseram imitar as façanhas dos Macabeos, porque pelejaram sem conselho, perderam em um dia o que eles com prudente e bem aconselhado valor tinham ganhado em muitos. Se algum capitão pudera escusar o conselho, era o gênio de Alexandre, formado pela natureza para conquistar e vencer.