Por Brasil e Portugal

Mas nem a sua arte nem a sua fortuna o lisongeou de maneira que não antepusesse o conselho a ambas. O que desigualou o poder, pode-se suprir a arte; o que errou a mesma arte, pode-o emendar a fortuna; mas o que se intentou sem conselho, ainda que o favoreça o caso, nunca é vitória. A que alcançou de si mesmo Alexandre, essa lhe deu todas as outras, porque se sujeitou a perguntar quem sabia sujeitar o mundo, e havendo de dever de algum modo as suas vitórias, não as quis dever ao seu braço, senão ao seu conselho.

Ouçamos ao homem mais sábio, o qual só logrou perpétua paz, porque entendeu melhor que todos a guerra. No capítulo XX dos Provérbios, dá Salomão um documento militar notável. Diz que as guerras se hão de governar com os lemas: Gubernaculis tractanda sunt bella. Se falara das guerras e batalhas navais, pouca dificuldade tinha este provérbio; porque não há dúvida que nas vitórias do mar, grande parte cabe ao leme. Mas falando de todas as guerras absolutamente, que proporção têm as armadas com os exércitos, os navios com os esquadrões, e os combates do mar com as batalhas da terra, e da campanha? No fundo do original hebreu lançou Salomão a âncora, e escondeu o sentido deste seu provérbio. Onde a nossa Vulgata diz in gubernaculis, lê o hebreu in consiliis. E chama Salomão aos conselhos lemes da guerra, para que entenda a política militar dos exércitos, que tanto caso hão de fazer generais do conselho, como os pilotos do leme. Se na capitania onde vai a bandeira e o farol, faltou o leme, derrotou-se a armada; e se o general descuidado ou presumido desprezar o conselho, dê-se também por derrotado e perdido. Assim como para navegar e fazer viagem a nau, é necessário que vá sempre o leme na mão, já a uma, já a outra parte, acomodando-se as velas ao vento; assim, na guerra em que os acidentes são tão vários, nenhuma coisa se deve intentar, nem seguir, senão