Por Brasil e Portugal

com maduro conselho. Assim o escreveu antigamente São Basílio, e depois que a arte náutica saiu do Mediterrâneo ao Oceano, Hugo Cardeal. Mas que seria, ou que sucederia, se o conselho não se ouvisse, ou ouvido se não tomasse? Sem consultar as estrelas se pode prognosticar facilmente. A nau que não dá pelo leme, e toma por d'avante, mui arriscada vai a encalhar em um baixo, ou se romper em um recife. Livre-nos Deus de que não seja tão fatal o nome, como é próprio.

Entre todos os exemplos desta desatenção (que lhe não quero dar outro nome), é o que sucedeu ao exército de Nabucodonosor na malograda conquista de Betúlia. Chegou Holofernes com numerosíssimo exército à vista daquela grande cidade, e vendo que se apercebia à defensa, e para resistir, o que sua soberba não presumia, chamou a conselho de guerra somente por razão de estado — que alguns perguntam o que é bem que se faça, só para saberem o que não hão de fazer. — Houve de dizer seu voto Achior, que era mestre de campo da gente amonita, e não querendo adular, como outros, mas dizer como era obrigado, o que entendia, deu um parecer singular. Disse que se lançasse espias na campanha, e que se procurasse haver às mãos algum homem de Betúlia, do qual se soubesse exatamente, se havia pecados contra a lei do seu Deus naquela cidade. Se não houvesse pecados, que levantassem logo o cerco, porque impossível seria que o Deus de Israel os não ajudasse; mas se houvesse pecados que acometessem seguramente a cidade, porque sem dúvida a levariam. Boa confirmação do que dissemos no discurso passado; e era gentio e sem fé quem assim votou, para que vejam os que fundam os seus pareceres em outras políticas, se votam como racionais e como cristãos.

Zombou Holofernes do conselho, e jurou muito indignado pela vida de Nabucodonosor, que pelos mesmos fios da espada por onde haviam de passar todos os