de longe, que fora da ocasião blasonam, e quando ela chega viram as costas? Não por certo. Pois se tanto temia e fugia da morte, quem lhe tirou este temor? O mesmo São Crisostomo e outros santos dizem que o deserto. Tinha andado tantos dias por aquele deserto despovoado e ermo, e não é muito que a morte que temia cortesão, a desafiasse anacoreta. Boa moralidade, se em si mesma não tivera a réplica; por que Elias não só temeu a morte quando fugiu da corte, senão também quando caminhou tantos dias pelo deserto? Qual foi logo a causa desta tão notável mudança? Não foi a virtude do deserto, senão a da árvore, diz excelentemente Ruperto: Confugit ad vivifici crucis lignum, illic mortem, ambit.(89)Nota do AutorAquela árvore a cujo tronco se arrimou Elias era figura da árvore da cruz, e tanto que fugiu para ela, logo não temeu a morte de que fugia, antes a desafiou. É certo que a sombra das árvores também tem virtude, ou nociva, ou saudável, de que traz os exemplos Plínio;(90)Nota do Autor e a virtude da sombra da cruz é desassombrar os ânimos, e lançar deles todo o temor. Por isso o profeta temeroso e fugitivo, tanto que se pôs à sombra daquela sagrada árvore, logo ficou tão animoso e intrépido, que voltando o rosto para a mesma morte de que ia fugindo, a provocou e chamou por ela: Petivit animae suae ut moreretur.
Mas para que é pedir, testemunhos à sombra, se na realidade da mesma cruz os temos mais evidentes. Chega Cristo, nosso Redentor ao Horto, e representando-se-lhe vivamente a afrontosíssima morte, e os tormentos excessivos, que na última batalha daquela noite e dia lhe estavam aparelhados para padecer, não só os evangelistas confessam que temeu pavorosamente, Caepit taedere, et pavere; mas o mesmo Senhor com instâncias