três vezes repetidas pediu, e tornou a pedir ao padre, que por qualquer modo possível o livrasse de beber aquele cálice: Pater, si possibile est transeat a me calix iste. Tanta era a repugnância e horror com que naturalmente como homem lhe tinha penetrado o coração, e quase prostradas todas as forças do ânimo a imaginação somente daquele terrível combate. Chegada, porém, a hora em que passando do Horto ao Calvário, e pregado o mesmo Senhor na cruz, bebeu efetivamente não outro, senão o mesmo cálice que tanto tinha temido e repugnado, vendo que já se esgotava de todo, protestou em alta voz, que tinha sede de mais, Sitio. E de que mais era esta sede? Do mesmo licor amargoso e mortal de que vira cheio no Horto o mesmo cálice. De mais crueldades, de mais penas, de mais afrontas, de mais tormentos. São Lourenço Justiniano: Sitit utique, et inebriatus amaritudine adhuc durior a sustinere desiderat.(91)Nota do Autor Como se dissera (continua o mesmo santo): Si hae, quae tolero pauca videntur, adde fagellum flagello, appone vulnera a vulneribus, lacera, ure, confige, percute, occide: Universa haec, et maiora toto desiderio sitio.
Mas aqui entra a dúvida ou admiração de São Bernardo falando com o mesmo Cristo. Quid est hoc? Antequam gustes, ó bone Jesu, petis calicem omnino auferri, et postquam ebibisti, sitis.(92)Nota do Autor Que mudança é esta tão súbita, bom Jesus? Antes de beber o cálice temieis tanto chegar a bebê-lo, que pedistes uma e três vezes ao padre, que por todos os meios possíveis vos livrasse dele; e agora que o tendes já bebido, e quase esgotado, tendes sede de mais? Onde estão aquelas repugnâncias, aquelas agonias, aqueles temores e horrores tão apertados, que vos obrigaram a o reclamar com tantas instâncias?