Estão e ficaram no Horto, e em toda a parte onde não havia cruz; porém no Calvário, onde o mesmo Cristo foi pregado, e levantado nela, a virtude da mesma cruz, eu por eficácia e efeito, ou por doutrina e exemplo lhe infundiu ao mesmo Senhor tal ânimo, tal valor, tal fortaleza; que os mesmos tormentos que imaginados repugnava e temia, padecidos lhe causavam sede, e ardentíssimos desejos de padecer muito mais. Disse por efeito, ou por exemplo, porque esta virtude de infundir ânimo e valor, parece que Cristo era o que a podia comunicar à cruz, e não a cruz a Cristo. Mas lembremo-nos que quando Deus lutou com Jacob, os braços de Deus comunicavam aos braços de Jacob o valor; e o mesmo valor recebido nos braços de Jacob tornava depois em resistências aos braços de Deus. Da mesma maneira os braços de Cristo pregados nos braços da cruz; os de Cristo comunicavam aos da cruz o valor, e o mesmo valor reciprocamente se podia outra vez receber nos de Cristo, tão capaz agora de receber a fortaleza, como no Horto o fora de admitir o temor. Mas quando não fosse por eficácia e efeito, foi sem nenhuma dúvida por doutrina, e por exemplo; para que entendêssemos e soubéssemos os que somos membros do mesmo Cristo, que o remédio e o antídoto mais eficaz de todos os temores é a virtude da sua cruz.
Sendo pois tão poderosa e eficaz a virtude da Santa Cruz para tirar temores e dar ânimo e valor, vendo Cristo a Nicodemus tão tímido e desanimado, que até em matérias que tocavam a fé, não ousava a se declarar intrepidamente, traz-lhe à memória o milagre da serpente de Moisés, e o mistério e figura da cruz; Sicut Moyses exaltavit serpentem in deserto; it exaltari oportet Filium hominis; para com este sagrado sinal animar sua fraqueza, e fortalecer sua pusilanimidade. Assim foi e se