Os mitos africanos no Brasil: ciência do folclore

Infelizmente os nossos Folcloristas vão procurar origens, trasgos, variantes, paradigmas, influências e mais coisas hipotéticas arianas, semíticas e civilizadas quando se referem aos contos que saem fora do comum das "histórias" sem fundo, atribuindo aos negros uma inteligência curta e uma ideação acanhada...

O que a nossa novelística tem de melhor, de mais acentuadamente perfeito, veio dos Haussás, transmissores e renovadores no Brasil de muitos contos de seu continente. Não importa que os coligidores recebam essas peças dos acalôs bantos, nagôs ou jejes, misturadas, interpoladas, mascaradas com sainetes em suas e outras línguas, para se atribuir ao mestiço baiano reformas que não fez de contos que ainda se podem em grande parte reconstituir, desmoralizando assim ilusões que, de vez, necessitam ser apagadas.

O fato de se encontrarem no Folclore português peças que aparecem também no Folclore brasileiro não basta para se lhes atribuir origem europeia. Portugal e Brasil as poderiam ter recebido da África e mudado os cenários, os personagens e os conceitos, embora mantivessem os esqueletos. Isso é o que se verifica geralmente. Os exemplos citados por Nina Rodrigues e Artur Ramos, embora poucos, mostram que essa verdade é incontestável.

Os Haussás foram muito mais artistas do que se possa pensar. Tomaram os atributos dos personagens dos contos afronegros e moldaram outros muito mais suaves e muito menos crespos, dos quais daremos adiante dois exemplos — um do Quibungo e outro do Chibamba, — nos quais se poderá ver como se tornaram renovadores, ou antes como procuraram, dentre outros, nacionalizar esses dois Mitos como se fossem propriamente seus.

Os mitos africanos no Brasil: ciência do folclore - Página 375 - Thumb Visualização
Formato
Texto