Os mitos africanos no Brasil: ciência do folclore

O príncipe feioso interpretou aquelas palavras a seu modo e acabou por mandar prender o pobretão-esmoler que viera das terras da princesa sua noiva, recomendando que reforçassem os guardas e o tivessem a sete chaves.

Enquanto isso se passava, o jardineiro cantava e as folhas que ele molhava riam-se e as flores tocavam uma música de encantar. A princesa foi ver de perto aquelas coisas maravilhosas, mas ele fingiu não a ter visto. Ela cantou a cantiga dele, pois já a havia aprendido. As flores dançaram à sua voz e ele continuou a fingir que não a vira, procurando de onde vinha tanta harmonia.

E isso todas as manhãs, sem se falarem, sem se olharem. Numa delas, porém, Chibamba, que chegara das terras do príncipe feioso, assim que a princesa chegou ao jardim, cantou em companhia dos dois. As plantas cresciam, tomavam corpo e viravam em pessoas. As que tinham somente folhas, em moços muito bonitos e muito bem vestidos. As que tinham flores em moças lindas, dos olhos azuis e dos cabelos de ouro. Toda essa gente cantava e bailava ao som da Cantiga do Jardineiro, mas quase nem punha os pés no chão como se tivesse asas invisíveis.

A moça pensou estar sonhando, tão pobremente vestida que se achava diante daquela riqueza que nascera a seus olhos e sem igual no mundo.

Nesse ato, o passarinho cantou, falando e trinando, a vida do moço e, quanto mais ia dizendo, mais iam caindo os pedaços da roupa do jardineiro e aparecendo as do príncipe que ele era.

A moça não pensou mais. Correu, mudou a roupa e casou-se com filho da princesa pobre, cantando os três a cantiga que os uniu.

Os mitos africanos no Brasil: ciência do folclore - Página 385 - Thumb Visualização
Formato
Texto