Os mitos africanos no Brasil: ciência do folclore

Dias depois Chibamba apareceu nas terras do príncipe feioso vestido de cantor de rua. Riu-se muito de ainda se procurar o pobretão que fugira das sete chaves da cadeia do palácio do rei ainda não coroado e "abriu o bico" despertando aquela gente que parecia ir morrendo. Tudo voltou à vida e à alegria. Ao pé de quem chegasse, espantava as tristezas e servia do encanto. Adivinhava até o que os adivinhos iam dizer.

A fama do cantor chegou até os ouvidos do príncipe feioso que não se demorou em mandar convidá-lo para um banquete para eles dois somente. Depois dos "comes e bebes," o futuro rei daqueles lugares quis saber o que deveria estar fazendo a princesa sua noiva.

— Está casada e bem casadinha com o moço mais bonito e mais feliz que já nasceu na terra.

O príncipe esbugalhou os olhos, irado da vida, mas Chibamba foi logo cantando a Cantiga do Jardineiro que era também a história da princesa pobre que a ensinara ao filho antes de morrer.

O feioso entendeu, nas palavras do cantor, a história dos amores de sua noiva e não pôde conter a raiva. Quis gritar pelos guardas para prenderem Chibamba, mas sua boca entortou-se. A fúria cresceu mais. Quis arrumar-lhe um cacete que estava ao alcance de sua mão, mas o braço secou e tornou-se como de pedra. Resolveu então atirar-se com todo o corpo sobre Chibamba, mas também não poôde — tinha se virado em um saco de carnes e de ossos.

Os moradores do palácio, depois que o cantor saiu, foram ver o príncipe e ficaram muito desolados diante do seu estado. Mandaram chamar os adivinhos e estes, sem pestanejarem, disseram todos ser aquilo passageiro,mas obra de um homem que se banqueteara com o futuro rei, um ser encantado, ou antes, a alma da mãe do príncipe

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