História das guerras e revoluções do Brasil, de 1825 a 1835

foi que à trovoada seguiu-se uma saraivada tão áspera e pesada, que os brasileiros, apesar de se envolverem até as orelhas nos capotes esburacados, gritavam de dor enquanto que o granizo, de mistura com a chuva, crepitava incessante sobre nós. Sem que soasse o toque de alto, a columna inteira parou, deu ao vento as costas encurvadas e bradou unanimemente: "Que diabo de chuva de pedras!" (Textual). Os raios precipitavam-se amiúde, os trovões bramiam pavorosos, a terra retumbava, e todo o horizonte parecia abrasado de chamas; desanimadas, as tropas acocoraram-se no chão, esperando, em muda resignação, o advento do juízo final. Mas, ainda não era chegado este dia fatídico; finalmente amainou a fúria da tormenta, emudeceram os trovões, e só a chuva persistiu, para cessar gradualmente, quando chegamos a Piratinim. Levávamos assim quinze longos dias para vencer apenas dezenove léguas. Ao entrarmos naquele povoado, era, realmente, lamentoso o aspecto do exército, composto de quase todas as nações do mundo civilizado e selvagem que o ferro inimigo não dizimara, mas a fome e a miséria combalira. O caminho que trilhamos do acampamento àquela povoação, em que as tropas foram provisoriamente alojadas, ficara juncado de carcaças de bois e de cavalos; os comissários incumbidos de averiguar o prejuízo, estimaram a perda de gado em seis mil cabeças. Mas, não só animais tinham