desencadear-se sobre as augustas cabeças. E, de novo, o imperador via-se só.
Grande devia ser a sua aflição neste dia, pois, na mesma noite, mandou encaixotar todos os seus haveres. Mas, logo que foi terminado este serviço, consta que subitamente se mostrou de novo muito calmo e despreoccupado. Assim foi que, a um camareiro que lhe pintava, com as cores mais carregadas, o perigo iminente, respondeu: "Ora, ainda mesmo que daqui me expulsem, tenho só neste cofre vinte cinco milhões de cruzados, em ouro e em notas do banco da Inglaterra; meto-me num navio e vou-me embora; com este capital e mais o que o mesmo banco ainda me deve, irei viver na Europa, como particular, muito mais feliz do que aqui no Brasil como soberano imperador." A realização deste desejo não devia tardar muito; rompia o dia 7 de abril de 1831.
Antes que os raios deslumbrantes do sol espancassem as névoas matutinas, o populacho começou a reunir-se em todas as praças públicas, com especialidade no Campo de Santana; choviam insultos, maldições e impropérios sobre o imperador, o governo e o ministério. "Para o inferno com estes demônios," gritavam uns. "Com que gosto eu não daria uma facada nesta canalha portuguesa," acrescentava um corpulento mulato; por todos os lados viam-se cacetes erguidos e as lâminas de facas mal ocultas luziam por baixo