sua tão benéfica existência, a excelsa princesa desdenhou os cuidados dos médicos nacionais e mandou chamar ao digno e geralmente respeitado Dr. Rau, alemão de nascimento. Mas, já era tarde demais; já não havia salvação possível, e o que de mais nobre havia na terra teve de se transformar em pó.
Antes mesmo que D. Pedro regressasse do Rio Grande, devia realizar-se o enterro da imperatriz e, na realidade, na noite destinada à cerimônia, o aspecto das cousas era assaz equívoco. A cidade inteira estava de luto; em todos os semblantes estampava-se uma dor muda e desesperada; negros, mulatos, portugueses, irlandeses e alemães choravam a morte da sua mãe comum; pela primeira vez sentiam-se irmãos, emudeceu o ódio nacional e todos os rancores pessoais pareciam extintos. Um movimento desusado reinava em todas as ruas, uma agitação no porto e um tumultuar inquieto nas praças públicas; mas, tudo silencioso, retraído e misterioso. Cada um sabia o que queria, e estava pronto a tomar parte ativa na primeira erupção; o governo jubilava-se secretamente com a ameaça da revolta, que serviria aos seus egoísticos projetos; segundo todas as aparências devia ocorrer uma grande modificação na administração; o império oscilava sobre os seus alicerces. Esperava-se, de todos os lados, que as tropas alemães, incitadas ao furor e a vingança pelo pretenso assassinato da