Mulheres e Costumes do Brasil

Foi então que o tumulto se tornou ensurdecedor. Pálido de medo, o português sentiu a sua audácia enfraquecer diante do perigo que o ameaçava. A sua resistência desesperada não pudera sobrepujar o vigor da negra. Esta, grande, de compleição robusta, parecia ter nas mãos uma criança. Pendurado na popa da embarcação, o negociante humilhou-se e pediu perdão.

A negra aproximou-o da cara, como teria feito a um boneco de Nuremberg, e percorreu toda a sua mesquinha pessoa com um olhar tão calmo que o fez estremecer. Depois, colocou-o sobre o convés.

— Dê-me o braço! Disse ela tranquilamente.

Não houve que hesitar. O negociante concertava o desalinho da vestimenta, enxugando as grandes gotas de suor que lhe escorriam da fronte. Esforçava-se por sorrir e, curvando o braço, ofereceu-o à sua perigosa inimiga.

A negra dignou-se aceitá-lo. Dirigiu-se afinal para a mesa com Sua Senhoria, o negociante de carne seca.

Durante a conclusão da paz, o cabeleireiro, músico como todos os seus colegas, correra para buscar a sua clarineta a fim de celebrar o vencedor. A força muscular da negra acabava de impor silêncio à voz ruidosa dos preconceitos.

Então, o artista, ameigando a atitude, levou à boca o instrumento e seguindo o par reconciliado entoou a contradança do Tambor Real.