compreender como um escritor, depois de ter lido o retrato de Barbara traçado pelo poeta amoroso (refiro-me ao sr. Manuel de Faria e Sousa) houvesse suposto que Camões acabou por se envergonhar da sua indigna paixão por uma escrava, mesmo negra, tão lindamente dotada.
Manuela estava em todo o esplendor da sua mocidade. Eu dava-lhe 25 anos. Era uma criatura alta, majestosa, cujas formas esplêndidas e corretas parecia terem sido modeladas em bronze. Poderia ter feito um pendant harmonioso com o magnífico negro que Girodet colocou no seu quadro a Revolta do Cairo. O seu rosto era sulcado por traços perpendiculares, como todos os de sua nação, que era a mina. Seus olhos claros e profundos refletiam ao mesmo tempo inteligência e energia. Seu colo, seus pulsos, ornados de colares e pulseiras em ouro e coral, sua camisa bordada, seu vestido de xadrez, cheio de babados, seus cabelos vaidosamente enrolados no alto da cabeça e formando ondas nas fontes, um xale de cor espantada, jogado descuidosamente sobre os ombros, e cujas extremidades esvoaçavam atiradas para trás das espáduas, compunham, num conjunto pitoresco, uma fisionomia cheia de piedade e ao mesmo tempo grave e sedutora.
Achei-a bela, de uma beleza despretensiosa, mas real. Meus cumprimentos fizeram-na sorrir.
— Eu sabia bem que Manuela te agradaria, disse Fruchot. A beleza não é motivo de convenção. Ela