O feitor fixava um preço para a perfumada mercadoria. Desde que a soma estipulada fosse regularmente entregue todas as noites, Manuela ficava livre todo tempo restante, e ainda poderia guardar para si o excedente da receita.
Em pouco, a boa aparência e a gentileza da nova quitandeira foram notadas pelos frequentadores da rua Direita. O conteúdo do tabuleiro desaparecia, como por encanto, e numerosos fregueses murmuravam palavras doces ao ouvido da preta.
Foi a partir dessa época que o seu pescoço, as suas orelhas, os seus dedos se cobriram de colares, brincos e anéis. Seria para quem mais se esforçasse de a agradar, a bela escrava.
O sr. Madrinhão, velho português avaro e caprichoso, não foi o último a impressionar-se pela rapariga. Fez-lhe alguns elogios e resolveu dispor dela.
— Dê-me a liberdade, e vosmecê poderá contar com o meu reconhecimento, respondia invariavelmente Manuela, a cada tentativa do senhor.
Este achava a sua escrava bem sedutora, sem dúvida; ela, porém, valia muito e a sua generosidade não estava à altura do seu amor.
Havia algum tempo, Manuela parecia preocupada. O sorriso fresco, que antes vivia tão voluntariamente em seus lábios, desaparecera. Às suas maneiras atraentes, aos seus olhares ternos e ardentes, ao mesmo tempo, com que recebia os fregueses, sucedera um ar de melancolia, poderei mesmo dizer, de tristeza.