Mulheres e Costumes do Brasil

De cócoras sobre a calçada, em frente ao tabuleiro, ela não se dignava mais conversar alegremente com as companheiras, nem requebrar-se sob os olhares embevecidos dos senhores.

Esgotava-se a mercadoria, é verdade, mas sem que ela pagasse o imposto das amabilidades e das provocações.

Às vezes, porém, a nuvem que escurecia a sua fronte dissipava-se de repente. O seu olhar iluminava-se vivamente e a sua boca desabrochava como a rosa matinal. Um homem acabava de se aproximar para comprar-lhe algumas frutas. Esse homem, que tinha o rosto furadinho como um coador, ocasionara subitamente uma mudança completa nos traços da quitandeira As pupilas da rapariga não cessavam de passear pela abundante cabeleira dourada do estrangeiro. Sua voz retomava, ao falar-lhe, o seu timbre caricioso e doce. Oferecia-lhe as pitangas mais vermelhas, as pinhas mais apetitosas. Um encanto particular desprendia-se daquele indivíduo, e os seus cachos frisados, de um louro ardente, cor de fogo — por que recuar diante da verdade? — continham para a negra um atrativo poderoso, irresistível. Seria o efeito do contraste? Seria pela novidade, pela estranheza da cor desconhecida na África e mesmo no Rio?

Quem poderá jamais elucidar razoavelmente as caprichosas evoluções da paixão?