— Não faz mal! O senhor pagará outro dia, e mesmo se quisesse dar um grande prazer à sua escrava... disse ela sem ousar concluir.
— Então?
— ...o senhor permitiria que eu o presenteasse com este pêssego, balbuciou Manuela, baixando os olhos.
A tola vaidade do estrangeiro indignou-se. Não compreendendo quanta delicadeza havia no gesto da crioula, e quanto amor inconfessável revoltou-se contra a sua ilimitada pretensão.
— Um presente! Queres fazer-me um presente? Perguntou ele. Impossível, minha negra. Aceito o teu saboroso pêssego, mas, como estou sem dinheiro, receberás em troca esta joia.
E tirando do dedo um anel, entregou-o à escrava, que o recebeu com um arrebatamento cujo sentido era impenetrável.
Durante uma semana o estrangeiro passou sempre pela rua Direita, trazendo na fisionomia a expressão preocupada que tinha no dia da troca do pêssego pelo anel. E não se dignou parar junto da quitandeira para comprar frutas.
A tristeza de Manuela aumentava, e as companheiras, que haviam adivinhado o seu segredo, zombavam dela impiedosamente.
— Então, o senhor Corado (3) desdenha os frutos perfumados e os olhares provocadores da bela Manuela? Rosnavam as outras com pérfida alegria.