Mulheres e Costumes do Brasil

Afinal, o estrangeiro saiu da loja. Manuela correu-lhe ao encalço e atingiu-o sob as luzes da rua dos Latoeiros. Atravessando-se insolentemente à frente dele, olhos ardentes, peito arqueado, mãos nas ancas, de forma que a luz do lampião refletisse em cheio no seu corpo:

— Senhor, disse-lhe com voz vibrante, amo-o. Quer amar-me também?

Certo, essa maneira audaciosa de oferecer o seu coração não se parece absolutamente às práticas desavergonhadas, diria mesmo revoltantes, se elas não inspirassem desprezo pelas pobres criaturas que todas as noites arrastam vestidos de seda sobre o asfalto dos nossos boulevards. Essa manifestação atrevida, mas involuntária de um amor contido por muito tempo, nada tem de baixo nem de abjeto. Nada que possa lembrar as provocações das meretrizes da Europa. Ninguém ensinou às lindas filhas da África a vencer as paixões e reprimir as inclinações naturais. O pudor, sentimento divino, que o cristianismo revelou à mulher, é desconhecido entre elas. Não existem, a seu ver, convenções, nem usos estabelecidos. Ignoram os ásperos gozos da imolação, as harmonias superiores do dever. A seus olhos, o amor é a luz verdadeira, o único principio vivificador que não precisa de fórmulas calculadas por antecipação, nem de cerimônias convencionadas para se impor. É, porque é. E obedecer-se àquele de quem o amor promana é render-se-lhe piedosa homenagem.