Havia, portanto, uma soberba franqueza, uma candura tocante na resolução de Manuela.
A lei que consagra amores de amantes e amores legítimos não foi feita para escravos. As instituições e os preconceitos proíbem a estes uma afeição honrosa e lealmente repartida com outros, e com os semelhantes. Fora de sua esfera, os laços que eles formam nada têm de respeitáveis. Ainda mais, para eles confundem-se todas as noções — as mais vulgares — do bem e do mal. A conduta dos senhores, a seu respeito, os exemplos abomináveis, que se produzem diariamente a seus olhos, são causas infalíveis de embrutecimento e desmoralização.
Ora, uma cativa que possui um sentimento profundo e que é levada por força irresistível, não hesita em despir a sua alma. Desprende-se por esse motivo da atmosfera corrompida que a envolve. Divaga triunfalmente nas regiões puras, luminosas, etéreas da paixão.
A beleza de Manuela, enquanto ela posava assim diante daquele homem sem embaraço nem vergonha, revestiu-se de um caráter majestoso, dominador, que instantaneamente produziu resultado. O estrangeiro foi logo subjugado pela expressão nobre, altiva, simples ao mesmo tempo, da sua fisionomia.
Envolveu a negra num olhar reconhecido e respondeu com emoção:
— Mereces ser amada. Obrigado. Aceito a oferta do teu coração.