Os prazeres austeros da família são-lhe igualmente interditos, e como a sua alma não saberia regozijar-se ao calor benfazejo de um amor profundo e sincero, nunca mais experimentará senão uma necessidade imoderada de emoções violentas, amargas, impetuosas que somente poderá satisfazer o comércio das cortesãs. Ai está a sua punição, e bem merecida.
Ai se asfixiarão os sentimentos, como flores nascidas num fumeiro.
Aquele que vive em uma atmosfera corrompida deve acabar por se corromper. Tal é a lei. Salvo raras exceções, qualquer retorno à sã moral torna-se impossível para ele. Arrastará até ao fim dos seus dias o pesado fardo do ceticismo. Desprezando, desprezado, não conhecendo da mulher senão os seus disfarces e as mentiras, ignorando a dedicação, o sacrifício, o dever, isto é, a felicidade.
Pode, porém, chegar o dia em que esse homem, que afogou no delírio o sentimento da sua degradação, desperte bruscamente do pesado sono que mantinha todas as suas faculdades entorpecidas. Esse dia será aquele em que a sua juventude se tenha esvaecido, não deixando após si mais que rugas e misérias.
Passa-se então, no camarim da cortesã, uma cena horrível.
Depois de lhe ter usurpado o coração, as ilusões e a fortuna, Belcolor pretende ainda roubar-lhe o nome.