Mulheres e Costumes do Brasil

O cabeleireiro, por sua vez, tornando-se sociável, vivo, alegre, como convém a um Fígaro autêntico, não sabia o que inventar para agradar a Manuela.

Era ele quem ia buscar fogo, quando a preta queria fumar. Conseguira que ela se dignasse deixar que ele lhe penteasse os cabelos, e a fim de testemunhar-lhe a resolução que tomara de nos ser agradável, renunciara ferir-nos os ouvidos com a sua clarineta. Todas as noites pegava o violão e cantava com graça modinhas capazes de satisfazer ao paulista mais exigente. Creio mesmo que a esplêndida beleza de Manuela tinha alcançado, aparte os preconceitos, produzir efeito no sensível cabeleireiro; a menos, no entanto, que não se atribua a uma delicada gentileza a escolha de certo romance que ele repetia frequentemente aos pés da mina.

Esse romance falava de amor, não é preciso dizer. Mas o mote, tirado das Redondilhas de Camões, continha uma confissão direta à qual a voz emocionante e a intenção expressiva do músico davam um encanto todo particular. Lembrava o mote, numa ária terna e lânguida, o costume lídio e o ardor impaciente e incontido do moço, e a frieza soberba da dama a quem dirigia as suas lamúrias.

"Menina formosa e crua.

Bem sei eu.

Quem deixará de ser seu.

Se vós quiséreis ser sua."