O que justificava até certo ponto a minha suposição acerca da sinceridade amorosa do cabeleireiro era o jogo proposital da sua fisionomia, ao substituir a palavra — senhora — que se referia à idade de Manuela, pela palavra — menina — empregada pelo poeta no quarteto citado (2).
É inútil repetir que a convenção concluída entre os dois ilustríssimos senhores foi sempre fielmente cumprida.
Nunca mais o negociante de carne seca e o cabeleireiro se arriscaram, depois de enorme feijoada, a agradecer ao capitão à moda portuguesa. Todos os dias, porém, ficavam bem uma meia hora em seus camarotes. Quando reapareciam no tombadilho, os seus olhares procuravam o meu para se assegurarem de que durante essa curta ausência nenhum motivo de aborrecimento havia contra eles.
Também o personagem que lhes fazia medo não tinha sequer mostrado a ponta dos seus chifres, e mais nenhum acidente interrompeu a boa marcha da viagem.
Uma manhã, enquanto tomávamos chá, um movimento desusado fez sentir-se a bordo. Disseram-nos que S. Jorge estava à vista. A começo não avistamos senão uma massa opaca de neblina; mas à medida que a sumaca se aproximava da costa, a paisagem clareava, a verdura e os tetos destacavam-se do véu azulado que formavam os vapores do Rio da Cachoeira e do Patipe. Distinguimos afinal a colina de