Mulheres e Costumes do Brasil

Este mostrou-se profundamente surpreso com a minha ação. Agradeceu-me em português, declarando que, pelo meu procedimento, ainda mais que pelo meu gesto, ele adivinhava que eu pertencia a uma nação diferente da de seus inimigos.

Antes de levar o copo à boca, o botocudo espalhou no chão algumas gotas do líquido. Queria isso dizer que essa libação se dirigia em primeiro lugar a Taru, o criador de todos os seres, e em seguida às divindades inferiores que habitam as florestas.

Sorveu então alguns goles de cachaça; depois, apontando para Gregório, estendido ao pé de uma árvore, pediu-me que lhe levasse o resto da bebida.

Essa delicadeza surpreendeu-me bastante, porque eu não ignorava que os pele-vermelhas levam ainda mais longe que os mulatos o desprezo e a aversão pelos negros.

Aparentemente o pajé leu o meu pensamento. Tanto assim que replicou:

— Gregório é um miserável escravo, sem dúvida. Mas é prisioneiro como eu, e os mestiços deixaram-no quase morto. Taru é um deus terrível, porém justo, e o deus dos brancos ordena socorrer os que sofrem.

Um antropófago, praticando a caridade! Coisa estranha e quase incrível, não acham?

Gregório acabou de esvaziar o copo ajudado por mim. Virou-se com dificuldade para o botocudo.

— Gregório, agradece a seu tio índio, murmurou com voz fraca. Se Gregório um dia vier a ser