ele tanto lastima, sem bem a compreender, é por assim dizer um fruto da civilização. Em suma, os brancos, que os pele-vermelhas consideram erradamente como inimigos implacáveis não são senão valentes soldados da humanidade.
O velho pajé escutava-me atentamente, sem protestar contra a minha argumentação, senão por um sorriso irônico, que lhe apontava sempre sobre o lábio rasgado.
O fim da minha última frase fê-lo novamente explodir, e um clarão selvagem iluminou-lhe as pupilas.
— Conheço essa palavra, disse com azedume. Os pajés da aldeia repetiram-na vinte vezes por dia, durante os quatro anos que me tiveram em seu poder. Os pajés da aldeia fazem belos discursos, porém os atos dos civilizados desmentem as suas palavras.
Animando-se, à proporção que falava, continuou:
— É por humanidade que os brancos invadem os nossos sertões e arrancam por violência a herança de nossos pais? É ainda por humanidade que eles nos repelem para o fundo das florestas e nos massacram, se tentamos defender os nossos territórios, a nossa caça, as nossas famílias, a nossa independência secular? É enfim por humanidade, sempre por humanidade, que eles acorrentam os sobreviventes — pobres velhos como eu — que levam como cativos? Oh! juro por Taru, criador do mundo, como a vossa civilização, que tenho horror à humanidade!