tira de vós, mas que deixarieis incultas. Troca os produtos do solo e da sua indústria pelas riquezas dos outros países. Quanto mais ela afugenta as tribos para o sertão, mais dilata o círculo da sua atividade benéfica. Impotente para vos atrair ao seu seio e achando em vós resistência tenaz, cega, encarniçada, ela vos cerca incessantemente e vos mata sem piedade. Mas, ao menos, a civilização, completando a sua obra, não bebe o vosso sangue, nem come os vossos cadáveres. Que consideração se poderia ter para com selvagens que, refugando o trabalho e oprimidos pela fome, assassinam os seus semelhantes para comê-los em seguida?
Esperei com inquieta curiosidade a resposta de tio Barrigudo.
Pareceu-me ver nele um certo embaraço, uma certa vergonha.
Depois de curto silêncio, o índio levantou a cabeça.
— Compreendo o teu pensamento, disse. Na aldeia também os pajés e os senhores acusam-nos de comer a carne dos inimigos. Mas, responde-me francamente. Que é preferivel a um valente soldado: ter por sepultura as entranhas de um guerreiro ou o ventre dos urubus e dos jaguares?
Um calafrio percorreu-me os membros, a esta pergunta. Instintivamente virei-me, a fim de me assegurar se os capitães-do-mato estavam sempre ali, perto de mim.