— Explica-te melhor, retruquei.
— Aqui está: depois de um encontro com os brancos e os botocudos, que honras pensarás que teus irmãos rendem aos despojos dos seus inimigos? Abandonam-nos na floresta, onde os cadáveres se tornam presas dos animais selvagens. Tal sorte deve ter sido a dos meus companheiros de fuga, abatidos ontem pelos mestiços. Pedi que os enterrassem. Responderam-me que seria privar de seu quinhão as onças das redondezas. Foi a civilização quem falou assim a um selvagem. Pois bem. Dize-me agora: qual o mais bárbaro, o índio que dá as suas entranhas para túmulo dos seus inimigos, ou o civilizado que entrega o guerreiro caído pelos seus golpes à voracidade dos guarás e dos urubus?
A estas palavras, o horror e a indignação confundiram-se na minha alma. Pareceu-me que se alongavam os dois últimos dentes do botocudo, e a sua fisionomia ficara mais horrorosa que dantes. Inteiramente entregue à impressão que sentia, dei um passo para trás.
— Então, exclamei, confessas que as tribos ainda não renunciaram totalmente a esse costume execrando?
O pajé tomou o ar majestoso que já descrevi.
— Não confesso nada, disse ele, senão que os nossos antepassados, os aimorés, sacrificavam os seus prisioneiros e nutriam-se da sua carne. A tradição dessas festas sangrentas foi mesmo perpetuada até nós.