Alguns fazem parte do Senado. Mas não galgam, senão dificilmente, as soleiras das casas particulares. O brasileiro, que nutre a pretensão de descender dos companheiros de Cabral e de Mem de Sá, e que se gaba de ter nas veias sangue português, não os deixará sentar-se à sua mesa.
O preconceito reina e comanda no mundo oficial.
Um alto funcionário, ministro do Império, se o quiserem, receberá em sua casa um mestiço carregado de condecorações. Convida-lo-á a jantar, e numa noite de baile, ordenará à sua mulher que vença a sua repugnância e dance com ele. Mas nunca, jamais — fosse o mestiço tão rico quanto todos os Rotschild reunidos — o alto funcionário lhe cederia a mão da filha.
Esta tirania feroz do preconceito mostra um lado ridículo, quando se atende ao número excessivamente limitado de brasileiros que conservam, puro de qualquer mistura, o sangue dos primeiros dominadores. Esse número não ultrapassa certamente a sétima parte de uma população que está avaliada aproximadamente em sete a oito milhões. Notemos que há províncias como as de São Paulo e Minas Gerais, em que os habitantes provêm, em grande parte, do cruzamento dos antigos conquistadores com as raças autóctones.
Como nenhum recenseamento sério ainda foi feito, somos obrigados a estabelecer uma relação aproximada entre a população livre e a população escrava.